Em direção ao início


pratiprasava-heyāḥ e pratipakṣa-bhāvanam[1]


Foto: W Camacho
A expressão “pratiprasava” quer dizer: reabsorção, restituição, ir para trás em direção ao início, em direção à fonte, involução. E a expressão “pratipakṣa-bhāvanam” significa ter uma atitude, um estado mental que vai no sentido oposto, contrário, diferente aos criados por pensamentos ou ações negativas.  São esses conceitos que vamos explorar um pouco nesse texto. 
Patanjali nos fala, no verso II.10[2] que devemos identificar o klesa (a fonte de sofrimento) e pacificá-lo enquanto ele ainda não deu frutos, indo na direção oposta – tornando o klesa impotente.
Considerando que os klesas agem de dentro para fora, isto é, atuam do sutil para o manifestado, para o denso, se desenvolvermos nossa sensibilidade, conseguiremos perceber a atuação da fonte do sofrimento, antes mesmo que apareça na forma de “crise” ou “dor”.
As nossas emoções funcionam como um elo entre o pensamento e o corpo. Observando nossos pensamentos e nossas emoções poderemos neutralizar as energias que surgem dos klesas. Elas costumam se manifestar como raiva, ódio, inveja, cobiça, torpor, desejo obcecado, ilusão, etc. 
Kevin Ochsner[3], um estudioso da neurociência na Universidade de Colúmbia fala que:
 "Nossas respostas emocionais acabam saindo de nossas avaliações do mundo, e se pudermos mudar essas avaliações, mudaremos nossas respostas emocionais".
A ciência mostra que apenas ter uma percepção de que há uma escolha em qualquer situação já nos ajuda a sentir menos medo e incerteza.
“Encontrar uma maneira de fazer uma escolha, por menor que seja, parece ter um impacto mensurável no cérebro, mudando nossas respostas de reativas e automáticas para focadas e conscientes” [4].
Quando estamos num estado mental no qual há uma “direção”, um foco, é muito mais fácil refletir sobre a situação e chegar a uma solução mais eficaz.
No entanto, primeiro precisamos reconhecer que temos uma escolha de como reagir; e aí fazemos a escolha e procuramos agir da forma que resulte mais benéfica para nós e para os outros.

A proposta é sempre fazer uma reavaliação da situação. 

O olhar por outro ângulo. Perceber o funcionamento dos padrões mentais que nos levam apenas a reagir. Reavaliar  não é suprimir, não é evitar. É mudar a perspectiva da visão.
No verso II.34[5] Patanjali nos diz: 


“Impulsos negativos [tais como] agressividade, etc., que nós sentimos, provocamos ou toleramos estão enraizados na cobiça, raiva ou ilusão. Eles são leves, moderados ou intensos.  
Seus resultados são sofrimento sem fim e ignorância. Por isso precisamos cultivar a atitude mental oposta [6].”
Foto: W Camacho
Como cultivar essa atitude? Se formos capazes de perceber o pensamento enquanto ele ainda é sutil, teremos mais chance de ter controle sobre ele. Isso é controle da mente. Uma vez que conseguimos perceber esse pensamento e até mesmo, prever suas consequências, teremos mais chance de controlar nossas ações. Evitar a ação reativa. 

Outra característica que nos auxilia é a tolerância. A resiliência. Reduzir nossa resistência ao que acontece a nossa volta. Termos mais capacidade de nos adaptar ao meio e às situações. Deixar de “brigar” com o frio, com o calor, com o trânsito, com o vizinho.... Estarmos mais tranquilos para ver o que de fato é e, assim, ter mais clareza nas ações.
Quando reconhecemos e aceitamos nossos papéis nas atividades mundanas e cumprimos nossos “dharmas” também conseguimos alcançar um estado de paz interna que gera clareza de pensamento e ação. Cumprir o dharma é, também, uma maneira de reduzir o sofrimento.
Todas essas ações requerem que tenhamos uma prática de reflexão, de observação de nós mesmos agindo no mundo. Precisamos da meditação como um instrumento poderoso para reconhecer que temos escolhas. Para escolher melhor. Para podermos discernir.
Para alcançarmos algum resultado nessa prática é necessário que estejamos ancorados num sentimento de confiança. Que tenhamos fé no processo. Confiança em nossa capacidade, nos ensinamentos, nos nossos professores. Confiança de que somos amparados por forças maiores do que nós mesmos.
Foto: W Camacho






[5] II.34 Vitarkā-hiṁsa-ādayaḥ-kṛta-kārita-anumoditāḥ lobha-krodha-moha-pūrvakāḥ mṛdu-madhya-adhimātrāḥ duḥkha-ajñāna-ananta-phalāḥ iti pratipakṣa-bhāvanam
[6] Liberating Isolation – Frans Moors – The yogasutra of Patanjali




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