Samskaras & Sutras de Patanjali
Novas marcas, novos caminhos |
O trabalho do praticante de Yoga consiste em identificar
esses padrões, modificá-los ou até mesmo neutralizá-los ou destruí-los. Entender
a cadeia reativa que se estabelece em nossas mentes é um grande desafio.
Destrinchando
essa cadeia, identificamos, muitas vezes, a fonte do sofrimento. Nos Yogasutras de Patanjali esse tema –
samskaras - está permeando uma boa parte do conteúdo, uma vez que é a partir da
identificação desses padrões que se inicia verdadeiramente o processo de transformação.
Vamos abordar alguns dos sutras que se relacionam com
samskaras, sem a pretensão de esgotar um tema tão extenso, profundo e
importante.
Limpeza |
No primeiro verso:
I.1 Atha yoga anusasanam - o termo “atha” se refere ao iniciante ou aluno. Atha também
está relacionado com samskaras, pois é necessário entender quais são as marcas
que a pessoa apresenta e que deseja ou necessita que sejam modificadas. O
processo se inicia pela limpeza daquilo que não é mais útil. Aqui é essencial
ter o auxilio de um praticante experiente ou professor.
Reflexão |
O verso dois: Yoga citta vrtti nirodha – yoga é o direcionamento da mente para um só objeto com a exclusão dos demais – meditação - também tem relação com os samskaras, pois essa concentração da mente implica em deixar que os samskaras estejam quietos e não interfiram na capacidade do praticante de manter seu foco.
O verso I.3 – TADA DRASTHUH SWARUPE
AVASTHANAM – Então, aquele que vê, está
estabelecido na sua própria natureza – para estarmos estabelecidos na nossa
verdadeira natureza é preciso que os hábitos mentais, nossos padrões, nossa
natureza adquirida, por assim dizer, não nos impeçam de reconhecermos a nossa
natureza verdadeira.
Aquele que reconhece esses padrões já está com algum grau de
clareza mental. Percebe as interferências das marcas adquiridas. Consegue, com
a prática, diminuir essa interferência. Assim,
todo o processo do yoga envolve fazer uma jornada que tem seu ponto de partida na
identificação da natureza adquirida e leva em direção à natureza original da
consciência. Para
termos uma ideia do que seria essa natureza adquirida, podemos apenas vasculhar
nossas mentes, falas e comportamentos e perceber quantos deles são realmente originados
de nossa própria reflexão e observação, e quantos são “emprestados”, repetidos
desde a infância, por simples imitação de nossos pais, professores, educadores,
amigos e familiares.
Mentes tagarelantes |
Surge então a questão que é vital para o processo: precisamos
aprender a usar nossa mente para refletir. A mente tagarelante precisa se
acalmar.
No sutra I.18 – viramapratyaya abhyasapurvah
samskarasesah anyah - Patanjali diz que quando colocamos em quietude nossa capacidade mental de
geração de conhecimento (pratyaya), precedida pela prática de raciocínio e
reflexão, obteremos, como resultado, um estado mental no qual os samskaras
(padrões e hábitos mentais) são “postos para dormir”. Trocando em miúdos: é
necessário observar a mente, perceber os hábitos e padrões, olhar para eles com
nosso observador interno, identificar e refletir sobre eles. Isso por si só já
promove uma mente mais tranquila.
Esse esforço no processo de yoga vai nos levar a outro patamar,
no qual podemos escolher e substituir velhos hábitos, muitas vezes
“emprestados”, nocivos e geradores de sofrimento, por novos padrões escolhidos
por nós.
No verso I.50 tajjah samskarah anyasamskara pratibandhi
-
Patanjali diz que o esforço no processo de yoga gera
um samskara que “substitui” outro samskara (o positivo enfraquece ou anula o
negativo). O poder do novo samskara (aquele que vem da meditação) anula o velho
samskara até que possamos nos libertar dos padrões, como Patanjali diz no verso.
I.51
Tasyapi nirodhe sarvanirodhat nirbijah samadhih – finalmente o yogui fica totalmente
livre dos samskaras, tanto os
bons quanto os não bons.
Comentários